Hoje, infelizmente o vazamento de informações e o uso impróprio de dados são uma realidade. Ao mesmo tempo, estamos cada vez mais dependentes dos aplicativos bancários e até de dispositivos que tocam música a partir do nosso comando de voz. A inteligência artificial (IA) está mais presente do que nunca em nosso cotidiano. Veio para ficar, resta sabermos como.
A IA teve sua gênese há cerca de 65 anos, a partir de estudos científicos que buscavam agregar e fazer interagir um grande volume de informações para melhorar processos na saúde, agricultura, educação e no ambiente corporativo. A ideia-base concebida era facilitar a execução de serviços práticos, de modo a permitir que se pudesse aprender e pensar como um ser humano. Tais estudos, por óbvio, não imaginavam no que ela seria capaz de se tornar.
Muito se fala na extinção de serviços manuais e no nascimento de novas profissões, extrapolando, ainda, para a existência de uma nova era robótica, onde as pessoas se tornariam dispensáveis no mercado de trabalho, por meio da supressão de atividades em que a presença humana não fosse mais necessária. Para evitar excessos e desinformação, urge que, nos diversos campos do conhecimento e das atividades, rompamos paradigmas e avancemos na discussão e regulação do assunto.
No debate ético e filosófico, o mundo precisará achar a justa medida onde humanos e inteligência artificial, por mais evoluída que seja, caminhem juntos no avançar da civilização, sem ferir princípios morais. O Brasil tem de discutir o assunto e avançar no conceito de que, para que qualquer processo se efetive, necessário será que alguém-humano “ligue o botão”, ou seja, só devemos chegar aonde efetivamente permitirmos que se chegue.
É certo que haverá litígios no caminho, e perguntas precisarão ser respondidas. Que nível de protagonismo daremos à IA nas nossas vidas? Até onde aceitaremos que máquinas se aproximem das mais complexas capacidades humanas, como pensar, decidir ou agir? Como será seu uso na defesa e na segurança pública? Até onde nossa identidade e privacidade serão respeitadas? Nessa direção, o Estado brasileiro precisa estar atento, dando atenção ao tema e fazendo-o amadurecer na esfera dos três Poderes.
Há um grande desafio para a educação, talvez o principal neste século: preparar nossos jovens, verdadeiro capital humano, para atuar num mercado com novas capacidades e em novas oportunidades — a habilidade de evoluir e de se adequar ao novo cenário será imprescindível nessa tarefa.
Por derradeiro, a adoção de tecnologias disruptivas como a IA, para ser benéfica à sociedade, não pode ser usada de forma indiscriminada. Precisaremos reduzir riscos, evitar a exposição de dados pessoais, evitar o sugestionamento de compras, o uso de dados para influenciar, criar tendências e mesmo manipular informações. Sim, é o futuro chegando! Há que controlar os algoritmos, evitando o risco da tomada de decisões pela IA de forma independente. Isso só será conseguido com critérios e objetivos bem definidos.
*Hamilton Mourão, senador (Republicanos-RS), foi vice-presidente da República
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